Quem não gostaria de ter investido no Facebook, no Whatsapp ou no Uber em suas fases iniciais? Por volta de 10 anos atrás, essas empresas sequer eram conhecidas mundialmente, mas hoje estão entre as maiores do planeta.
Esse é o universo das startups: elas surgem enxutas – nascendo em mercados enormes e equipados com modelos escaláveis e disruptivos – e, em um curto espaço de tempo, encontram uma forma de crescer a tal ponto que revolucionam o seu setor – e as vezes até criam um novo setor que nem existia antes.
Nos EUA, o mercado de startups existe há décadas. Já o mercado brasileiro é recente, mas vem crescendo a uma taxa impressionante nos últimos anos. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) inclusive publicou recentemente uma regulamentação específica para investimentos em startups pela internet.
Outro indicador relevante é que três startups nacionais já se tornaram unicórnios – um marco impressionante para qualquer startup e seus investidores: essas alcançaram uma avaliação (valuation) de mais de US$ 1 bilhão. São elas: a 99 (99Taxis), a PagSeguro e a Nubank.
O cenário atual mostra que o investidor já percebeu o potencial das startups como ativo atraente para diversificação de carteira e a CVM, diante à demanda e perspectiva do mercado, criou um regulamentação específica para esses investimentos – a Instrução CVM 588. Agora investidores brasileiros conseguem investir por meio de plataformas autorizadas pela CVM, o que gera mais segurança.
No entanto, o que o investidor ainda não sabe, é como saber escolher uma startup para investir, quais indicadores devem ser levados em conta para a tomada de decisão, como saber se aquela empresa ainda enxuta de fato vai dar certo. Sobre essa pergunta, não há uma resposta que seja 100% correta. No entanto, há pontos chaves, básicos que podem ser analisados pelo investidor.
O primeiro deles é escalabilidade. Uma empresa escalável é aquela que consegue expandir muito o seu número de clientes, usuários e/ou faturamento de forma acelerada, sem precisar aumentar seus custos na mesma proporção. Essas são as empresas que têm o potencial de “crescimento exponencial”, não são limitadas pela sua estrutura de negócio e não sacrificam funcionalidade e confiabilidade para realizar esse crescimento.
Elas também desenvolvem processos que podem ser testados, estabelecidos e replicados com facilidade, sem perder funcionalidade com o aumento drástico de volume. Ou seja, os processos de produção e distribuição de empresas escaláveis funcionam bem tanto para poucos clientes quanto para milhões de usuários.
Para entender, vale comparar dois negócios. Um marketplace online como AirBnB – que conecta viajantes com proprietários de imóveis – é extremamente escalável, pois não tem os custos de comprar e manter hotéis em milhares de cidades para aumentar sua receita. Já uma consultoria tradicional, apesar de potencialmente ser um excelente negócio, não é escalável, já que, para aumentar suas receitas, tem que elevar seus custos proporcionalmente, o que impõe limites.
Outro ponto relevante é que investir em startups é investir em ótimos empreendedores. Dependendo da aceitação dos clientes, é possível e até provável que startups modifiquem o produto e/ou mudem o modelo de negócio no decorrer dos anos para conseguir evoluir e se tornar uma empresa de grande porte.
E é o empreendedor e sua equipe que vão liderar esse processo, gerenciando a empresa através as etapas diferentes de expansão. Muitos investidores e fundos de sucesso acreditam que os empreendedores são o fator mais importante ao investir em uma startup, pois enquanto muitas dos outros variáveis podem mudar ao longo da história da empresa, os empreendedores permanecerão.
O tamanho do mercado potencial da startup é mais um fator chave para determinar os potenciais retornos do seu investimento. Ele é que determina os limites potenciais de receitas da startup, se ela tiver sucesso ao longo dos anos. Afinal, não adianta uma empresa ser escalável se o número de clientes potenciais e/ou nível de receitas possíveis são baixos demais.
Além dos pontos que identificam uma boa startup, há alguns sinais que acendem o farol amarelo para o investidor. Um exemplo: deve-se evitar investir em startups que já cederam equity demais no início da sua história. Por exemplo, se uma startup já cedeu 40%, 50% ou mais de participação societária em uma rodada pre-seed para um investidor que nem trabalha full-time na empresa, é possível a startup não ter futuro.
No mundo das startups, a empresa terá que passar por várias rodadas de investimento para atingir seu potencial e gerar retornos para o investidor.
Ao ceder tanto equity no início, os sócios ficam sem equity suficiente depois para realizar outras rodadas essenciais, e a empresa estagnará, sendo ultrapassada por concorrentes que conseguem fechar mais rodadas de investimento. Essa prática infelizmente é muito comum no país, mas é como um tiro no pé do seu próprio investimento.
E por fim, ainda que uma startup reúna todas as características desejadas, nem os maiores fundos de investimento conseguem afirmar qual delas vai se tornar uma gigante, quem sabe até um unicórnio. Por isso, a estratégia de sucesso para esse tipo de investimento é “diversifique duas vezes”.
Primeiro, limite o valor que você investe nesses ativos e, segundo, divida esse valor em parcelas parecidas para depois investir em 5-30 empresas, construindo assim um portfólio de startups. Dessa maneira, sem dúvida, o investidor potencializa suas chances de participar, quem sabe em um futuro não tão distante, do sucesso financeiro dos próximos unicórnios brasileiros.
Fonte: Baguete – Brian Begnoche
21 de março de 2018