Poderia começar esse texto como um programa televisivo famoso, onde o objetivo seria falar sobre as camadas de abstração da Tecnologia da Informação. “O que são? Onde vivem? Como se reproduzem?”. Mas, antes disso, vou explicar como esse fenômeno acontece de maneira mais simples pois, no final das contas, todos fazemos parte de um mundo cada dia mais abstrato.
E é essa realidade que fez com o que o profissional de TI que atua na área há muito tempo tenha um perfil diferente de uma pessoa mais jovem que acaba de entrar no mercado. Isso significa que um dos perfis está com os dias contatos? Não necessariamente. E a resposta está no conhecimento das camadas de abstração do processo que envolve a programação de qualquer que seja uma arquitetura de dados.
Você saberia me responder, por exemplo, quais são os processos industriais desenvolvidos na fabricação de um lápis? E se eu te disser que nenhum ser humano é capaz de produzir um simples lápis de madeira sozinho? Você também lembrou que além de fazer o lápis a empresa planeja a logística de distribuição e entrega ao consumidor final? Pois bem, é disso que se trata a abstração.
Nós olhamos um objeto (ou serviço) pelo o que ele representa quando já está pronto para ser usado e nos esquecemos de considerar o esforço e as etapas que envolveram a concretização dele. Na área de tecnologia isso acontece, e muito, pois os desenvolvedores que coordenam as fases de uma programação e o caminho percorrido não ‘aparecem’ no resultado final de um projeto entregue ao cliente.
Essa abstração, que na minha opinião foi fundamental para os avanços em tecnologias que vivenciamos hoje, também transformou o papel do profissional de TI e ampliou os horizontes no que diz respeito às nossas especializações e competências exigidas. Antes, nós éramos apegados a um disquete para salvar arquivos, um data center para armazenar dados com cabos coloridos para todos os gostos que conectavam máquinas e equipamentos em um espaço considerável dentro da empresa.
A equipe de TI era como a ‘guardiã’ de uma infraestrutura exclusivamente física. Com o início da virtualização, que nos permitiu usar melhor os recursos dos servidores, a abstração se tornou um caminho sem volta. Embora tenhamos evoluído para a nuvem, muitas empresas brasileiras ainda resistem à essa nova realidade.
Um dos principais entraves nos quais esbarramos constantemente na contratação de profissionais dentro desse cenário digital são os técnicos e os culturais. Os técnicos porque a lista de competências exigidas para as vagas em TI está maior, mas isso não significa que os conhecimentos essenciais da construção dessas camadas seja menos importante que a parte abstrata da programação. Os profissionais que tiverem maior visão da sua camada de atuação dentro de uma arquitetura de dados e de outras que compõem processos anteriores e posteriores ao seu, são diferenciados, raros e muito bem remunerados.
A dificuldade das empresas em encontrar quem una essas duas competências (DevOps), que tenha o conhecimento da plataforma de execução e entenda da parte abstrata da gestão em Cloud, por exemplo, criou esse gap nas contratações e uma oportunidade aos mais atentos às mudanças.
Porém, os obstáculos culturais podem atrapalhar a interação das equipes que são formadas por pessoas de todas as idades que, além de serem de gerações diferentes, defendem com afinco um desses dois lados. A saída, na minha opinião, para um futuro da TI com equipes integradas e profissionais que sejam complementares é entender que todas as expertises são importantes para um projeto acontecer.
Você pode dizer que a cloud revolucionou o mercado, trouxe à tona modelos de negócios disruptivos e possibilitou um crescimento exponencial das empresas.
Concordo com você. Mas, olhando para uma arquitetura de dados, quem irá solucionar um problema que aconteça na base estrutural? Quem é o profissional que vai identificar um erro primário dentro de tantas camadas de abstração?
Se para uma árvore crescer é preciso cuidar da raiz, um time de TI de sucesso cultiva bons profissionais e estes, por sua vez, estão dispostos a aprender e a cooperar entre si com humildade e empatia pelo outro. Quando todas as etapas de um projeto são consideradas importantes, a responsabilidade da entrega final é compartilhada e os bons resultados comemorados por todos.
Fonte: Computerworld
14 de novembro de 2018