Setor movimentou, em 2020, R$ 23 bilhões no Rio Grande do Sul, o equivalente a 5,4% do faturamento total no país
Conforme a pesquisa, os 23,9 mil negócios gaúchos de base tecnológica movimentaram R$ 23 bilhões no ano passado. Isso equivale a 5,4% do faturamento nacional, que chegou a R$ 426,9 bilhões em 2020 – com 40% do montante concentrado em São Paulo. O desempenho gaúcho também criou 10,8 mil postos de trabalho no período de três anos, elevando a 55,2 mil a quantidade de empregos vinculados ao setor.
Quinto Estado em número de empresas, quarto no faturamento e nos empregos, o Rio Grande do Sul até poderia perder o destaque quando o foco está no incremento percentual registrado pelos cinco melhores do país no triênio. É que, de 2018 a 2020, Minas Gerais e Rio de Janeiro, por exemplo, ascenderam 27,9% e 37,3%, respectivamente, no quesito colaboradores, enquanto a alta gaúcha foi pouco mais modesta, de 24,3%.
Por outro lado, mesmo em escalada menor nas contratações, o RS lidera a evolução de faturamento com 11,6%. Acima de Minas Gerais (11,1%), de São Paulo (8,9%) e do Rio de Janeiro (7,7%).
Isso significa que a produtividade, ligada à solidez do segmento, segue fortalecida, avalia o secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do Estado, Luís Lamb. Segundo ele, esse tipo de crescimento é significativo, porque já parte de uma base tecnológica histórica e robusta.
— Sempre fomos um polo, por uma cultura construída ao longo de décadas. A primeira incubadora de TI foi criada na UFRGS, há 25 anos, quando não existiam parques tecnológicos. Os números que ocorrem aqui são de forma bastante sustentada — declara.
Lamb lembra que o Rio Grande do Sul, recentemente, gerou série de empresas que já se tornaram referências internacionais – caso da Zenvia e da Nelogica. Outras, diz, galgaram projeção nacional e aportes pesados no ano passado, como Warren, Agibank e Aegro.
Além disso, ele recorda de multinacionais instaladas. Exemplo da SAP, que tem a sua maior sede da América Latina no Estado e, constantemente, está em expansão.
— Nosso capital humano é muito qualificado. Aliás, esse é o desafio: formar capital intelectual suficiente para sustentar a demanda do mercado. A nova economia é centrada em pessoas e no preparo destes profissionais — pontua.
O SETOR DE TI
Número de empresas, faturamento e colaboradores
Formação
Na mesma linha, o presidente da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação no RS (Assespro-RS), Julio Ferst, avalia que o ecossistema gaúcho é mais consolidado do que em outros Estados. Isso ocorre, diz, por contar, há mais de 20 anos, com polos de inovação e parques tecnológicos.
Por essa razão, Ferst constata que, muitas vezes, os percentuais de expansão gaúchos podem ser menos expressivos do que em unidades da federação que começam, agora, a organizar o ambiente. Para o dirigente, é menos complicado avançar 50% sobre base reduzida de empresas do que em cenário mais maduro e organizado.
Segundo ele, ainda que o setor tenda a dobrar de tamanho a cada ano, o fator limitador será a mão de obra. Com 7,9 mil novos negócios e 10,8 mil empregos em três anos, a média gaúcha, por exemplo, fica em 1,36 vaga por empresa.
— O que nos trava é a formação de pessoas e a necessidade de incentivos. Precisamos olhar para a TI como se fosse um dos setores tradicionais e entender que, assim como no agro, se faltar água, a economia irá mal, na tecnologia, se faltar pessoas, a economia será prejudicada — compara.
Mais negócios na pandemia
Não resta dúvida de que 2020 foi um dos anos mais desafiadores dos tempos modernos. Ainda assim, a demanda por novas soluções e pela rápida retomada da economia e dos empregos trouxe inúmeras oportunidades para o setor de TI.
No país, 85 mil empresas foram criadas em um ano, totalizando agora 422,2 mil. No RS, foram 4,6 mil novos negócios de base tecnológica apenas no ano passado, o que equivale a 58,2% dos 7,9 mil registrados no último triênio.
Um deles foi a SOU.cloud, especializada em serviços em nuvem Microsoft. Fundador e CEO, Fabio Junges conta que os planos eram anteriores à pandemia e, em março de 2020, questionou se deveria ou não lançar a ideia ao mercado:
— Optamos por pisar no acelerador e avançar mais rápido do que o projetado. Isso se mostrou, depois, acertado, dado que a demanda por soluções em cloud aumentou.
Segundo Junges, naquele momento, boa parte dos clientes não tinha estrutura, produtos ou serviços que permitissem levantar negócios online. Migrar para nuvem foi o primeiro passo e a SOU.cloud conduziu o processo para centenas de empresas.
Hoje, são 40 colaboradores em 21 cidades de sete Estados, sem sede física. No início, conta Junges, o aspecto positivo foi poder contratar os melhores profissionais onde quer que estivessem. Com o passar do tempo, ironiza, o viés negativo foi que estes mesmos profissionais também puderam ser contratados por empresas de fora do Brasil.
— Como temos nível de qualificação alto e investimos em pessoas no Estado, isso atrai empresas que pagam em dólar ou em euro — diz.
Apesar desse contexto, o empreendedor percebe um momento bastante oportuno. E explica que, na última década, um conjunto de novas soluções surgiu para remodelar os negócios e que isso deverá incentivar o surgimento de mais empresas de tecnologia.
- Fonte: Gaucha ZH
- Imagem: Freepik
- 02 de janeiro de 2022