Primeiras unidades do real digital são emitidas pelo Banco Central

Na última semana, o Banco Central do Brasil (BC) emitiu as primeiras unidades do real digital para fins experimentais. Assim, a autoridade monetária brasileira obteve avanços sobre sua moeda digital, seguindo o movimento de vários outros países e que deve representar uma transformação nas finanças como as conhecemos hoje ao redor do mundo.

O real digital pertence a mesma lista das demais CBCB (Central Banks Digital Currencies) ou moeda digital dos bancos centrais. Tecnicamente, o real digital será uma “stablecoins”, ou moeda de valor estável, valendo um real, diferenciando-se de criptoativos como bitcoin ou ethereum, dos quais as cotações oscilam.

A emissão dos reais será realizada em um ambiente de teste, no Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas (LIFT). A intenção é de que até o final de dezembro, a versão “demo” deva ser divulgada.

O formato papel-moeda vem sendo cada vez menos utilizado, ao menos nas transações formais da economia.

De primeiro momento, o real digital não aparenta ser tão diferente dos reais “convencionais” que trafegam pelos servidores dos bancos e das processadoras de pagamentos.

Como exemplo, pense no seu salário. Ele é creditado em uma conta bancária pelo seu empregador. Esses recursos são usados para pagamentos. Podem ser boletos em débito automático, podem ser cartões de débito e crédito, e podem ser transferências via Pix. Todas essas transações, que trafegam por meios muito diferentes, são “digitais”: são trocas de informações entre sistemas, sem movimentação de dinheiro físico.

O que preocupa os bancos? 

Uma diferença muito importante do real digital é que não será necessário uma “autenticação” bancária, como acontece com Pix, cartões ou débitos automáticos. 

O real digital ficará em ‘wallets’ e será transacionado entre elas”, diz Carolina Gladyer Rabelo, diretora da ABBC (Associação Brasileira de Bancos), entidade que reúne 115 instituições financeiras e de pagamentos, além de cooperativas de crédito. “As transações não necessariamente terão de passar pelos bancos.”

Essa mudança é mais profunda do que a vivida com a implantação do Pix. O sistema de remessas instantâneas e gratuitas (ou quase) é intermediado pelo BC. Ainda assim, as transações ainda trafegam pelo sistema financeiro.

No entanto, no caso do real digital, um usuário que possua um celular com conexão à internet poderá receber recursos e realizar pagamentos sem ser ciente de um banco. 

O diretor de inovação da ABBC, Euricion Soares Pinho, completa dizendo que “há outras possibilidades, como por exemplo facilitar operações de câmbio entre o real e outras moedas digitais

Vigilância e novos riscos 

Na visão dos diretores da Associação, essa quantidade de alternativas vão levantar discussões sobre os novos riscos. “Quando as transações financeiras migram de um ambiente bancário regulado para o blockchain, a primeira preocupação é a segurança” diz Pinho. “Como evitar fraudes e lavagem de dinheiro, por exemplo.” Além disso, há o impacto sobre o sistema financeiro, que o diretor reconhece ainda ser uma incógnita. “Essa transição digital pode assustar os bancos mais clássicos e tradicionais”, diz ele.

Uma das questões está na segurança do dinheiro em casos de roubo, por exemplo, se todos os recursos de uma pessoa estiverem em uma “wallet”. Segundo Pinho, a segurança não evolui tão rápido quanto a tecnologia. 

Não por acaso, a iniciativa digital mais avançada é da China. O Banco do Povo, o BC chinês, está bem adiantado na emissão do renminbi digital. No fim do ano passado, o governo proibiu as transações com criptomoedas clássicas e impediu que cidadãos chineses minerassem ou investissem nesses ativos, em uma tentativa de forçar a circulação da moeda governamental.

 

  • Fonte: LGPDBrasil.com.br
  • Imagem: Freepik
  • 27 de outubro de 2022