Poucas empresas estão preparadas para lidar com a gigantesca massa de dados, milhões de rostos, em que seus aliados e “inimigos” são as mesmas pessoas: o cliente final
O poder migrou de mãos silenciosamente. Revolução, palavra que pode ter significado associado a um movimento de revolta contra um poder estabelecido, que visa promover mudanças profundas nas instituições políticas, econômicas, culturais e morais. Antes de associarmos o digital a uma revolução, associação esta muito utilizada atualmente, vamos analisar algumas questões importantes.
Em primeiro lugar, a revolta é dos dados? Sim, se considerarmos que eles representam a voz do consumidor dentro das empresas e também pela capacidade de causar rupturas nos negócios.
E se as revoltas acontecem contra um poder estabelecido, esta já aconteceu; o ditador nesse caso é a atitude de qualquer empresa em tentar arbitrar o que deve ser consumido. O poder já migrou aos poucos, silenciosa e pacificamente da mão das empresas para o consumidor final, que hoje tem total acesso a informação, a opiniões qualificadas, ou seja, de quem ele realmente confia, e tem, também, autonomia para fazer suas escolhas.
Essa mudança foi drástica, razoavelmente rápida e extremamente impactante para o modelo capitalista, mas para isso não foi necessária uma manifestação, conflito armado ou mudança relevante em leis. Podemos chamar sim de revolução digital.
As telecomunicações contribuíram com a mobilidade e a conectividade, mas a revolução digital nasceu na sociedade, que clamava por uma ruptura no modelo de consumo vigente.
E nesta “guerra pacífica”, como costuma acontecer em guerras, a inteligência da informação é fator de sucesso e a evolução da tecnologia é muito mais rápida e relevante do que em qualquer outro momento.
As empresas não estão preparadas para lidar com essa revolução de milhões de dados, de milhões de rostos, onde seus aliados e “inimigos” são as mesmas pessoas: o cliente final.
Dado: O Senhor da Guerra
Não é novidade para ninguém que boas decisões sempre estiveram baseadas em informações confiáveis, que por sua vez foram resultado de análise de dados brutos.
A diferença agora é que existe tecnologia para lidar com um volume descomunal de dados, gerando informações e sugerindo decisões, processo que pode acontecer em minutos, enquanto o ser humano demoraria décadas para lidar com estes volumes e complexidades. E se a demora de meses para algo hoje em dia já é se tornar obsoleto, décadas então…
O papel do novo profissional é extremamente intelectual e não mais braçal. Passamos décadas utilizando analistas para tratar de dados em planilhas. Quais deles estão preparados para serem os maestros? E há de se considerar a dificuldade do vício em uma função e a criação de novos hábitos em adultos.
Além disso, esse novo profissional deve encontrar nos dados da empresa as suas perguntas e respostas. Os dados guardam toda a memória da vida de uma empresa, desde a primeira interação com os seus clientes, erros e acertos, todas as reações do mercado aos seus estímulos e impactos de fatores externos, até a economia e o clima.
Os dados não mentem, jamais. Se você errou na estratégia de uma campanha, você pode até tentar vender isso de forma diferente ao C-level (CEO, CFO, CMO, CIO, etc.) mas os dados estão lá mostrando a realidade brutal, a quantidade de adesões à sua oferta, a reação nas redes sociais, os valores efetivamente vendidos, segundo a segundo. Os dados não são políticos e nem tem emoção.
Os dados falam sobre preferências dos seus clientes; não falam só sobre produtos em si, mas também a forma como eles preferem se relacionar contigo.
Você não é amigo de cada um de seus clientes para saber da sua rotina e, por exemplo, em que hora do dia ele prefere conversar, mas os dados podem te contar sobre isso.
Os dados estão te influenciando? Isso é ótimo
Se os clientes são altamente conectados, os dados gerados por eles também são, gerando influência, contaminação e rápidas rupturas de comportamento. Assuntos inusitados sobre a sua marca se tornam virais antes de você perceber.
O conceito de influência mudou radicalmente. No passado o foco eram jornalistas, celebridades, VIPs no geral; depois veio o fenômeno dos blogs e personalidades de redes sociais: pessoas comuns com dezenas de milhares de seguidores. Esses se tornaram alvo das empresas, até que a gente passou a não confiar mais naquele blogueiro patrocinado sem nenhum apego com a real qualidade daquilo que estava fingindo não vender.
No momento, o potencial maior de influência vem daqueles considerados de “pequeno porte”, mas que têm uma rede pautada em confiança e amizade. Seus seguidores realmente confiam em suas opiniões e até conseguem entrar em contato para aprofundar detalhes sobre um determinado tema.
A união de vários influenciadores de menos de poucos mil seguidores pode ser mais robusta que um único “big influencer”.
Agora, a melhor forma de abordar esses mini-influenciadores não é com patrocínio. Se a experiência com a sua marca for real, encantadora, próxima e mais que tudo, humana, os seus depoimentos futuros passarão muito mais verdade e irão gerar muito mais retorno em aquisições de clientes e reversão de imagens negativas.
Os dados estão na sua mão! Eles já sabem quem são seus influenciadores e qual a forma de encantá-los. Com as pessoas certas e tecnologias adequadas, impreterivelmente nessa ordem, você vai sair do outro lado. E acredite, isso não significa gastar muito dinheiro.
As pessoas certas. Dados não tem alma
Mas vamos lá: quem tem alma, emoção e ética são as pessoas. Se até a inteligência está sendo substituída, o que sobra para o ser humano é a sensibilidade em relação aos negócios. Comece a desenvolver suas habilidades cognitivas. Sem elas você estará fora do mercado em poucos anos. As empresas precisam do que é único em você, afinal o que todos têm igual já foi automatizado. É só uma questão de tempo para te substituírem por meia dúzia de soluções free. Acredite.
Para não fugir do tema relacionado à guerra, você já reparou que os filmes de guerra sempre focam em atitudes únicas e especiais dos soldados e seus líderes? O dia a dia de uma guerra não interessaria para ninguém se não existisse a inspiração de pessoas que conseguem se superar em estratégia, sensibilidade, ética e humanismo.
Assim são as guerras corporativas. Armas (tecnologias) mais poderosas podem substituir soldados, mas um bom estrategista nunca.
Na busca por inspirações e nesse processo de se transformar em um profissional “mais protagonista” e que sabe como auxiliar a sua empresa a extrair dinheiro de seus dados, é muito importante que leia, sobre a sua área de conhecimento, sobre temas de interesse… Uma coisa vai puxando a outra, mas o resultado das leituras sempre é a ampliação dos seus horizontes.
E ainda sobre a importância da leitura, recomendo o artigo do genial CEO do Grupo de Reserva, Rony Meisler: “Esta não é uma lista com os cinco melhores livros de negócios que já li… É a confissão pública das ideias que deles tirei”. No artigo, Meisler, de forma extremamente humilde e desapegada —qualidade muito importante para os profissionais —, cita os livros e associa a ações que implantou na Reserva. Extremamente inspirador.
Flavia Pollo Nassif
05 de Junho de 2017