Difíceis de compreender, especialmente para quem vê de longe, as novas empresas de base tecnológica acabam sendo explicadas com uma figura trazida da matemática.
São comparadas ao desenho de curvas de funções exponenciais, que se por um período parecem crescer pouco, a partir de determinado ponto “explodem”, passando a crescer a grande velocidade.
Entender esses negócios e, mais do que isso, incentivar a sua criação, porém, exige uma mudança de mentalidade, adaptada a decisões rápidas, pensamento global e foco na criatividade.
“Somos acostumados a pensar linearmente, mas agora é diferente. No início, esses negócios podem desapontar, parece que nada está acontecendo, mas, quando estouram, às vezes já é tarde para algumas empresas que não embarcaram antes”, argumenta Renato Cunha, diretor no Rio Grande do Sul da Singularity University, organização global de incentivo à inovação.
A percepção vem desde a chamada “Lei de Moore”, atribuída ao fundador da Intel, Gordon Moore, que, na década de 1960, projetou que a capacidade dos processadores dobraria a cada dois anos.
Segundo Cunha, essa taxa de crescimento é possível a qualquer tecnologia após ser digitalizada; e, mesmo com grandes inovações nos modelos de negócios recentemente (exemplos como Uber, Airbnb e Spotify são sempre citados), há ainda muita coisa para acontecer nos próximos anos.
Cunha, um dos palestrantes na edição de ontem do Tá na Mesa, da Federasul, utilizou como exemplo a realidade virtual, que pode parecer ainda algo longe da sua explosão, mas que vem tendo avanços significativos.
Também palestrante, o diretor do parque tecnológico da Pucrs (Tecnopuc), Rafael Prikladnicki, ainda acrescenta que são necessários ambientes que permitam o aparecimento desse tipo de negócios. O diretor cita como diretrizes para organizações exponenciais os conceitos de “inovar e transformar”, “conectado e global” e “leve e rápido”.
Esse último, aliás, é uma forma de responder a um mundo em mudanças cada vez mais velozes, e algo feito pelo próprio Tecnopuc, segundo Prikladnicki. “Criamos uma estrutura em rede, sem hierarquia tradicional, com líderes autônomos. É bem mais difícil, mas é construído conectado com os objetivos que temos”, conta o diretor.
Prikladnicki ainda comenta que há, no Rio Grande do Sul, um grande campo de ambientes que propiciam o surgimento desse tipo de negócios. São mais de uma dezena de parques tecnológicos vinculados à academia, além de várias incubadoras.
O que falta, na opinião do diretor, é mudar a mentalidade da lógica da escassez para a lógica da abundância. “Todos trabalham individualmente, não conectados. Se atuarmos articulados, os resultados também podem ser exponenciais”, defende, citando uma iniciativa recente, a Aliança para a Inovação, pacto assinado pelos parques de Pucrs, Ufrgs e Unisinos para avançar o ecossistema de inovação em Porto Alegre.
Cunha acrescenta que a lógica deve ser seguida pelas empresas. Não faria mais sentido ver o vizinho como um concorrente local, defende, mas sim como um aliado na formação de um cluster, capaz de atrair pessoas do mundo todo. “As gerações que mandam no mundo ainda são as criadas em outros tempos, mas a nova geração vem vindo com essa nova mentalidade”, sustenta Cunha. “Se não nos adaptarmos, elas vão nos atropelar, e com modelos de negócio que não vamos conseguir nem entender”, continua.
Fonte: Jornal do Comércio
07 de junho de 2018