Dados da pesquisa da Catho, mostram que a pandemia escancarou a privatização das responsabilidades domésticas aos cuidados das mulheres e, principalmente, a vulnerabilidade das profissionais mães
Segundo a pesquisa recente feita pela Catho, com mais de 6 mil profissionais, 92% das mulheres que estão em home office, também são as responsáveis pelos filhos, que também estão em casa, neste período.
E, apesar do trabalho dobrado, esse grupo ainda pode se considerar privilegiado, pois fazem parte dos 15,5% que conseguiram transferir o escritório para as suas residências. Realidade de uma minoria, já que para 71% dos entrevistados, trabalhar no conforto do seu lar, podendo cuidar dos filhos, é algo muito distante do seu dia a dia, assim, deixá-los com terceiros para trabalhar fora ainda é parte do cotidiano de milhões de brasileiros.
Das mães que trabalham fora, ainda segundo o levantamento, 69% deixam seus filhos com outras pessoas, 19% com os pais e 12% em uma escola ou creche. Enquanto os pais que trabalham fora, 36% deixam com outras pessoas, 58% com as mães e 6% em uma escola ou creche.
Para Regina Botter, diretora de Operações da Catho, essa é uma rotina de grande parte dos brasileiros. “O número de mães solo no País chega a mais de 11 milhões. São mulheres provedoras do lar, que estão sentindo as dificuldades relativas ao cuidado e a sobrecarga de tarefas potencializadas pela pandemia. Os dados mostram que tanto no home office, quanto trabalhando fora, a mulher acaba sempre sendo a maior responsável pelo cuidado dos filhos. Lembrando que quando pais ou mães deixam os filhos com terceiros, geralmente são com avós ou tias. Ou seja, outras mães”, afirma Regina.
Segundo a pesquisa da Catho, ⅓ das mulheres cuidam dos seus filhos sozinhas. São chefes de família que precisam se desdobrar para conciliar trabalho, filhos, falta de dinheiro e piora da saúde psicológica. Ainda, de acordo com dados do IBGE, mães solo negras são maioria que enfrentam restrições severas no que diz respeito à moradia, saneamento e acesso à internet.
Cerca de 28% não têm internet, em comparação a 23% das mulheres brancas, respectivamente. Em meio a mudanças nas dinâmicas de trabalho, com possibilidade de trabalho em casa, a falta de conectividade impacta diretamente na fonte de renda dessas mulheres.
“Com a pandemia e as incertezas no ambiente profissional, com certeza, as mães são as que mais estão sofrendo. Além da enorme quantidade de mulheres que perderam o trabalho, tem também as que precisaram pedir demissão, pois não tinham com quem deixar os filhos e as que entraram em regime de home office e precisaram conciliar os afazeres profissionais com as tarefas domésticas e o cuidado das crianças, que durante a pandemia, estão em casa durante todo o dia”, esclarece a diretora de Operações da Catho.
Protagonismo feminino na saúde
O trabalho na área da saúde sempre exigiu um enorme esforço devido à rotina exaustiva. Com plantões que viram a noite e horários que excedem o comercial, o trabalho dessas pessoas costuma ter longas jornadas, e durante a pandemia, isso se intensificou. A pesquisa da Catho também revelou que 40% das mães, que trabalham na área da saúde, deixaram de conviver com os seus filhos para evitar a transmissão da covid-19.
Segundo dados do IBGE, as mulheres são a principal força de trabalho da saúde, representando 65% dos mais de seis milhões de profissionais ocupados nos setores público e privado, tanto nas atividades diretas de assistência em hospitais, quanto na Atenção Básica.
Regina Botter explica que nesse momento é importantíssimo uma rede de apoio à mulher. “Muitas vezes, uma profissional de saúde passa 12 horas em um plantão e mais de 1h ou 2h no deslocamento até em casa, tendo apenas 1/3 do dia para conviver com o seu filho. E é nesse momento que os amigos e familiares precisam se fazer presentes e formar a tão famosa rede de apoio” diz, Botter.
- Fonte: InforChannel
- 07 de maio de 2021