Para uma empresa de tecnologia, reinventar-se é um desafio constante. Para a cinquentenária GOVBR – que abrevia o nome Governança Brasil, empresa líder no Brasil no setor de tecnologias da informação voltadas para órgãos municipais -, o maior desafio é servir como exemplo prático de gestão a ser adotada pelos seus clientes – constituído, principalmente, por prefeituras, destaca o CEO da empresa, Rafael Sebben.
JC Empresas & Negócios – Em quais áreas a GOVBR trabalha dentro do setor público e das prefeituras?
Rafael Sebben – Desde assistência social até gestão de cemitério. Nos municípios clientes, oferecemos aos pais, por exemplo, o acompanhamento do aluno da escola. O aluno foi ou não na aula? Qual foi o conteúdo que ele aprendeu? Como o sistema está na nuvem e temos aplicativos, se a professora registrar essa informação, os pais acessam na hora. No Interior, por exemplo, trabalhamos com transporte escolar. É responsabilidade do município, hoje, oferecer a escola e o transporte para 100% dos alunos. Se tu moras no interior, distante do Centro da cidade, o município tem que ir lá buscar teu filho. Através do nosso aplicativo, o pai consegue avisar se o filho vai ou não na aula. O sistema avisa a prefeitura, e eu poupo esse caminho, afinal, o município paga por quilômetro rodado. Essas áreas sociais são a grande demanda que estamos tendo hoje. Saúde, educação, assistência social e até segurança. Levar a gestão para os municípios é o nosso desafio. Levando aplicativos, tecnologia e informação.
Empresas & Negócios – Como funciona o trabalho na sede da GOVBR em Porto Alegre?
Sebben – Acessamos a base do cliente através de conexão remota. Vê o que está acontecendo, realiza chamados. Alguém aqui em Porto Alegre pega o chamado e atende. Essa sede atende Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Depois de atendido, o município avalia o serviço prestado. O pessoal que trabalha aqui no prédio não usa telefone. A gente virtualizou o telefone. A nossa empresa digitalizou 100% dos nossos contratos. A nota fiscal é eletrônica. Todos os nossos processos são eletrônicos. Aditamento de viagens, pagamento de viagens, faturas. De todo esse dia a dia da empresa, conseguimos reunir nossos arquivos de papel em apenas uma estante. Então eu mostro para o prefeito que vem aqui. “Está aqui, consegui fazer, é o teu desafio. Só que tu tens que começar por uma reforma administrativa, de conseguir fazer com que as tuas pessoas pensem assim.”
Empresas & Negócios – O serviço público é conhecido pela burocracia. Como a tecnologia pode ajudar a melhorar essa questão?
Sebben – Tentamos, através do software, eliminar a burocracia. Eliminar o carimbo, eliminar o papel. Esse é o grande problema que temos. É incrível a quantidade de papel que um município gera. Como estamos contribuindo? Triunfo é um município cliente nosso, por exemplo, que, neste ano, não gerou carnê do IPTU. Foi um teste que fizemos. Por que tenho que gerar carnê? Por que tenho que burocratizar? Por que não posso mandar o carnê do IPTU por WhatsApp ou SMS? Se tu tens o dado do cliente, tu mandas isso e ele vai entrar pelo aplicativo do banco e efetuar o pagamento. Isso, eletronicamente, está ficando cada vez mais possível, temos insistido com nossos clientes.
Há caminhos a percorrer nisso, mas digo com convicção: é isso que nos motiva como empresários. A oportunidade é muito grande do ponto de vista de melhorias dos processos do ente público, tem muita coisa para automatizar, para integrar. Muitas vezes, nos municípios, a departamentalização é gigantesca. Licitação não fala com o almoxarifado, que não fala com patrimônio, que não fala com outros setores.
Empresas & Negócios – Quanto do ambiente de trabalho que tu construíste aqui na GOVBR serve como inspiração para os órgãos públicos clientes?
Sebben – Na nossa sede anterior, tínhamos 72 latas de lixo, três tias de limpeza para fazer café e chimarrão. Nós não temos mais. Se eu, Rafael, sair contigo para tomar um café, e tu derrubares o café, eu tenho que limpar. Beleza! Poupei, consegui ser mais eficaz, mais produtivo. Isso que nós temos que levar para a prefeitura. Vou a Brasília com alguma frequência e é um mar de gente nos servindo. Tu vais em um fórum aqui em Porto Alegre, de quatro andares, e tem ascensorista no elevador. Será que precisa de alguém para apertar um botão para nós? Isso é uma dinâmica que estamos tentando levar para as prefeituras, de eliminar gastos e economizar espaços.
Empresas & Negócios – Quando surgiu essa ideia de otimizar o espaço da empresa?
Sebben – Eu já tinha essa ideia. Queria me tornar mais leve, mais barato, porque o ente público quer gastar cada vez menos, então tenho que ser mais competitivo. Como líderes de mercado, estamos definindo um padrão de referência de valor de mercado. Estamos trabalhando para ser cada vez mais enxuto. Em 2017, estive no Vale do Silício, na Califórnia. Fui visitar 22 empresas. Depois, fui a Dallas, visitei mais três empresas e um escritório. Lá, vi como as empresas de tecnologia estão funcionando. Minha área de TI, por exemplo, ocupava toda uma sala. Hoje, joguei tudo para a nuvem. Não quero porta-retratos, porta-canetas, porta-clipes, porque essas coisas custam. Vira sujeira, vira entulho, tenho que pagar espaço físico. O metro quadrado do aluguel é R$ 45,00. Se eu fosse ocupar cada pessoa no seu lugar, quanto ia gastar? Estou gastando a metade de aluguel, a metade de luz, um terço de água.
A gente não tem recepcionista, nem secretária. Não cabe, porque isso é um custo. Eu tinha uma sala grande de TI, com ar-condicionado monitorado, controlava temperatura, umidade, no break. A gente virtualizou tudo. E as prefeituras, hoje, têm essas gigantes salas de TI dentro das suas unidades, que disputam o recurso da merenda, do auxílio-creche, da creche, da assistência social, criando essas estruturas de TI. Então, quando estou falando de sistemas em nuvem, que é uma grande tendência tecnológica, eu elimino isso das prefeituras, custa menos para eles.
Empresas & Negócios – Como as prefeituras reagem a isso?
Sebben – Quando os administradores visitam nossa sede, eles perguntam: “Como levar isso para o órgão?”. Tudo aqui foi pensando em economia. Nossos vidros são duplos, nossa posição solar é favorável, nosso piso é “cor de sujeira”, o ar-condicionado economiza 30%. Esse é o desafio, temos que fazer a prefeitura gastar menos. A gente tem que fazer o ente prefeitura enxugar gastos. Temos que fazer o ente público enxergar que não precisa de 50 salas se tem 50 pessoas. Eu ocupava 2 mil metros quadrados, e, agora, ocupo 700 metros.
Fonte: Jornal do Comércio
01 de abril de 2019