Pela primeira vez, participo de uma experiência realmente intensa de aprendizado sobre blockchain. Já havia participado antes de fóruns, palestras e pequenos workshops, em que ainda muito se debatia sobre criptomoedas e regulamentação.
Mas no Fórum de Hyperledger, que ocorreu de 12 a 15 de dezembro, em Basel, na Suíça, discutiu-se apenas aplicações coorporativas
permissionadas, salvo alguns painéis sobre transferências de assets públicos e integrações com ledgers públicos.
Foram quase 1 mil participantes, e a organização do evento não deixou nada a desejar para eventos promovidos pela Linux Foundation, conduzido pelo diretor executivo Brian Behlendorf. Eles dividiram bem o formato do evento: nos dois primeiros dias, focaram em palestras técnicas, sobre negócios, casos de uso, keynotes e painéis de discussão. E nos últimos dois dias o foco foi em “praticar”, o que incluía um hackaton promovido pela Accenture.
O guarda-chuva da Hyperledger possui diversos projetos e cada um deles poderia ter um evento próprio de tão vastas que são as possibilidades de integração e criação de novos negócios. No fórum, tivemos conteúdos relacionados a todos eles, incluindo um novíssimo e recentemente lançado chamado de Hyperledger Ursa, voltado para criptografia — tão novo que nem os banners estavam atualizados.
A localização do evento foi estratégica, a antiga Basel. Com mais de 2 mil anos, cortada pelo rio Reno, fica no centro de um triângulo entre Alemanha, França e Suíça, países que contribuem muito para o ecossistema da comunidade blockchain. A Suíça, inclusive, possui forte atuação em inovação quando se fala em tecnologia, e atualmente tem parceria estratégica com o Brasil em diversos setores — recomendo buscar como funciona a atuação da Swissnex, por exemplo.
A maturidade de aplicações blockchain não está nada diferente quando em comparação com o cenário brasileiro. O mesmo nível de estágios de aplicações que encontramos no Brasil também encontramos no resto do mundo. O que comprova que, além de estarmos bem posicionados, também temos uma tecnologia em estágio de descobertas e testes. Alguns casos de uso na área da saúde e logística parecem bem mais avançados e com alguns padrões — também identificamos que identidade digital e integrações financeiras se mostram bastante promissoras.
Inclusive, esperava ouvir mais a respeito de proteção de dados e privacidade, mas pelo fato de blockchain ser um dos pontos de discussão quando se trata de armazenamento de dados em ambiente imutável, acabou não sendo tão discutido, com exceção de um ou outro painel que tratava do tema. Privacidade, inclusive, foi um dos temas do Hyperledger Fabric, ao demonstrar a capacidade de integrações on-chain, off-chain e Private Data Collection na comunicação entre peers de um mesmo canal, protegido dos demais canais na mesma rede.
Não sei se o evento continuará no mesmo formato e lugar no próximo ano, mas seria coerente que um fórum de blockchain não fosse centralizado e sim acontecesse em diferentes partes do mundo ao mesmo tempo, de forma sincronizada e interativa, tal qual uma rede de blockchain.
Aline Deparis
CEO da Maven e Presidente da Assespro-RS do biênio 2019/2020