As startups da América Latina arrecadaram mais de US$ 5 bilhões em venture capital no primeiro semestre de 2022. Mesmo com desaceleração no setor em função de um cenário com guerra e alta dos juros e da inflação, esse já é o segundo maior ano para investimento em venture capital, atrás apenas de 2021.
Outra boa notícia é que, em três anos, os investimentos em startups lideradas por mulheres na América Latina quase dobraram. O índice passou de 16% em 2019 para 31% em 2022.
Os dados fazem parte de um estudo realizado pela A LAVCA – Associação de Investimento em Capital Privado na América Latina, e apresentado em evento realizado em parceria com a Microsoft e a Bertha Capital.
O crescimento nos aportes ao empreendedorismo feminino registrado foi refletido no ecossistema brasileiro, que viu os investimentos direcionados às startups fundadas por mulheres passarem de 15% para 30%, no período entre 2019 e 2022.
“A lacuna de diversidade no mercado de Venture Capital é um reflexo da nossa sociedade e do mercado de tecnologia como um todo”, analisa Franklin Luzes, vice-presidente de Inovação, Transformação e Startups em fase de crescimento acelerado na Microsoft Brasil.
Segundo dados do Women Founder Report 2021, quando se trata de empreendedorismo tradicional, 46,2% das empresas são fundadas por mulheres. No entanto, no ecossistema de inovação, onde os empreendimentos têm foco em tecnologia, essa representação é de apenas 9,8%. “Precisamos ter um olhar intencional para o setor e buscar mais diversidade quando se trata de direcionar investimentos”, acrescenta.
Em linha com os esforços globais pela igualdade de gênero, surgiu o Women Entrepreneurship (WE), um programa desenvolvido pela Microsoft Participações, em parceria com o Sebrae Nacional e a M8 Partners, e com o apoio da Bertha Capital. O WE é o primeiro fundo de VC focado apenas em empreendimentos liderados por mulheres. A iniciativa, lançada em 2019, já investiu em oito startups nos últimos três anos.
De acordo com a pesquisa da LAVCA, até o momento foram investidos mais de US$ 5,4 bilhões em startups latino-americanas, o que representa 541 acordos assinados. Os aportes por meio do Venture Debt, modelo de financiamento para startups com baixo capital de giro, vem se expandindo na região e já representam 13% do total arrecadado.
O Brasil continua sendo o maior mercado de investimento de VC na região no primeiro semestre de 2022, com US$ 2,2 bilhões investido em 232 transações, representando 41% do capital e 43% dos negócios da região. Na América Latina como um todo, os setores que mais receberam investimentos foram os de fintechs, cerca de 30% no total, seguidos por empresas de software (20%), e-commerce (16%), proptech – setor imobiliário (7%) e logística (6%).
Segundo o estudo, o número de reapeted funders (empreendedores recorrentes, na tradução livre) que conseguiram levantar investimentos quebrou recordes em 2022, já que 43% dos empreendedores que já haviam conseguido levantar capital em rodadas de 2019, repetiram o feito este ano.
“O ecossistema de Venture Capital da América Latina está em seu segundo melhor ano já registrado, com investimentos no primeiro semestre de 2022 que já superaram o capital comprometido nos anos completos de 2019 e 2020. A evolução é gradual, mas constante, em um ecossistema mais experiente, equitativo e resiliente”, destacou Carlos Ramos de La Vega, diretor de Venture Capital da LAVCA.
Segundo ele, isso pode ser visto pelo aumento significativo do financiamento para fundadores e empresas lideradas por mulheres, bem como o um dinheiro substancial para investir em oportunidades, os chamados dry powder disponível para apoiar as early-stage (startups em estágio inicial).
- Fonte: Jornal do Comércio
- Imagem: Freepik
- 04 de setembro de 2022