O que CIOs brasileiros fizeram em 2018 e o que esperam para 2019?

O ano de 2018 foi um ano em que CIOs foram ainda mais cobrados para entregar eficiência operacional e resultados. Mesmo diante de um contexto político-econômico brasileiro que exigiu cautela de muitas organizações, projetos de Transformação Digital seguiram a pleno vapor. Se em 2017, muitas companhias iniciaram seus projetos de digitalização e, timidamente, incorporaram tecnologias emergentes a algumas iniciativas, 2018 foi um ano de maturidade e que reforçou o papel do CIO como um líder estratégico dos negócios, para além da tecnologia.

Projetos de automação, Analytics, Blockchain e Internet das Coisas estiveram no radar e na prática de grandes empresas neste ano, confirmando muitas das previsões feitas para 2018. Entre as empresas que se destacaram por adotar a robotização está a EDP Brasil. A companhia avançou na sua jornada de automação iniciada em 2017, quando se tornou a primeira do setor elétrico no Brasil a criar um Centro de Excelência em Robotização. Desenvolvido em conjunto com a EY e a Universidade de São Paulo (USP), o projeto de Pesquisa & Desenvolvimento busca não só automatizar processos, mas também entender seus impactos na força de trabalho. Segundo Marcos Penna, CIO da EDP Brasil, são esforços que também refletem a preocupação com a digitalização humanizada do trabalho.

A companhia encerrou o ano com 125 robôs em operação, destes 81 foram implementados em 2018. Os colegas robóticos passam por todas as unidades de negócios, desde a redistribuição de energia e comercialização aos serviços corporativos. “Com o projeto, tivemos um ganho de eficiência de R$ 6 milhões ao ano. Ao todo, com 125 robôs, conseguimos mais de 70 mil horas robotizadas”, explica Penna. A proposta é que robôs possam assumir atividades manuais e repetitivas para, no final do dia, funcionários terem mais tempo para missões estratégicas e criativas.

Em entrevista à CIO Brasil, Penna conta que só neste ano a área de TI da EDP Brasil desdobrou cerca de 70 iniciativas digitais. Uma das soluções que mais se capilarizou foi a adoção de Analytics. “No início de 2017, criamos uma área de Analytics que não era em TI, mas fizemos uma nova imersão e a área se tornou executiva e foi migrada para a TI. Com isso, conseguimos alavancar as estratégias a partir desse Big Data. Em 2018, foram concluídas 30 iniciativas em Analytics e mais de 20 estão andamentos”, lembra Penna.

De acordo com o CIO, as iniciativas atravessam todas as unidades de negócio da EDP Brasil, desde a distribuição e atendimento ao cliente à área de Recursos Humanos, que faz uso do Analytics para seleção de currículos. “Temos um volume gigantesco de dados e há uma necessidade gigantesca de tratamento deles. Apoiamos a área de negócios para conseguirmos ser mais eficientes. O resultado foi muito significativo”, reforça.

Diante de tanto trabalho, a área de TI também esticou. Atualmente com 65 colaboradores, a área aumentou cerca de 30% neste ano e também passou por reestruturação. “Tínhamos áreas que estavam descentralizadas. Buscamos profissionais primeiro na EDP que não estavam na TI e também pessoas no mercado. Mas a TI cresceu para fazer frente, principalmente, à robotização e Analytics”, conta.

Com projetos que buscam atender diferentes dores do negócio, Penna diz que a companhia criou uma área dedicada, batizada de “Digital”, para desdobrar provas de conceito. Projetos de smart grid e até mesmo um laboratório para testar soluções em blockchain estão em andamento. “A área de TI trabalha muito próxima da área de negócio para identificar necessidades e oportunidades”, ressalta Penna. “Também trabalhamos com Agile, com rapidez que agrega valor”, acrescenta.

TI é negócio

Trabalhar próximo a área de negócio também dinamizou neste ano as responsabilidades da TI da JHSF Participações. A holding possui negócios em diferentes segmentos de mercado, como shoppings center, lojas de varejo, hotéis, restaurantes e trabalha para concluir um aeroporto executivo em São Roque. Se há uma palavra que poderia definir o ano de 2018 para Rogério Pires, CIO da JHSF, seria “integração”. Um dos esforços da área de TI foi iniciar, neste ano, o processo de integração dos ERPs do Hotel e Restaurante Fasano aos sistemas da JHSF.

“Nosso objetivo é que até meados de 2019 tudo esteja consolidado em somente um ERP”, assinala Pires. Ao integrar em um só ERP, a companhia conseguirá eliminar os custos duplicados de software ao mesmo tempo que ganha mais agilidade. Muitos processos manuais também foram renovados pela digitalização. Um portal do RH foi lançado para dar mais agilidade e organização à área, conta Pires. Por meio dele, o funcionário pode solicitar suas férias, recibos e benefícios.

“Custo é importante, mas a gente quer ganhar eficiência operacional. Nós temos projetos em andamento e outros que ainda passarão pelo conselho. Mas o objetivo é tornar a empresa o mais digital possível. Estamos num processo há um tempo da redução da parte física. Temos muita coisa que já é digital, como aprovação de compras, holerite, pedido de férias para o RH. Transitamos pouco em papel”, conta.

E com uma grande massa de dados, vêm grandes responsabilidades. A saída, segundo Pires, foi a adoção do sistema de Power BI, que deu visibilidade e compreensão para analisar perfis de clientes e oferecer produtos personalizados. Um reflexo desse trabalho já pode ser visto no marketplace que o Shopping Cidade Jardim lançou recentemente. No e-commerce é possível comprar itens das marcas de luxo que possuem lojas no shopping. O serviço também oferece conteúdo criado sob medida para os clientes. “Estamos trabalhando em cima do Power BI e agora queremos expandir para outras unidades de negócio”, revela Pires.

A demanda pela digitalização das diferentes áreas do negócio exigiu das áreas de TI das companhias e, claro, do próprio CIO uma espécie de reinvenção. Se antes os diretores de tecnologia eram mais reativos às demandas, hoje as soluções são pensadas em conjunto. “Há algum tempo fizemos um movimento para que a TI estivesse ligada à área de negócios. Temos especialistas em cada uma dessas unidades, que conversam com as equipes de marketing, de financeiro, etc. Eles são como usuários-chave em cada unidade que entendem a dor de cada área. Quando surge um problema, ele é o primeiro a ser acionado”, conta Pires.

O que esperar para 2019?

Apesar das companhias não detalharem seus orçamentos para TI em 2019, os CIOs entrevistados prometem dar sequência aos projetos encaminhados neste ano enquanto abrem espaço para testar novas tecnologias. No horizonte da EDP Brasil, o projeto de robotização em 2019 será ampliado e passará a incorporar cada vez mais a Inteligência Artificial. Marcos Penna também reforça o trabalho de conformidade que será feito em 2019 em direção à Lei de Proteção Geral de Dados aprovada neste ano. “Estamos fazendo uma revisão dos nossos sistemas para atender a plenitude da Lei”, diz Penna.

“Para além das tecnologias maduras, estamos olhando para as tecnologias emergentes. Estamos procurando fazer provas de conceito com todas as tecnologias. Nosso objetivo é deixar a TI sempre alinhada com tecnologia de ponta, ao mesmo tempo que entrega agilidade”, complementa o executivo.

Já para a JHSF, uma das ambições da área de TI para 2019 está na Internet das Coisas. Pires conta que sua equipe trabalha para implementar uma prova de conceito onde sensores serão responsáveis por monitorar a operação das escadas rolante de shopping e elevadores. “Nós queremos desenvolver um algoritmo para que o sensor avise quando a escada possa dar algum tipo de problema. Com isso, conseguimos fazer uma manutenção mais assertiva”, revela.

As tendências tecnológicas para 2019 apontam para a uma maior adoção da tecnologia Blockchain e avanço da Inteligência Artificial para automatizar processos, algo que na visão de Penna é a saída estratégica para escalar negócios.

Ao mesmo tempo, espera-se que o mercado de trabalho em TI seja favorável para os profissionais uma  vez que os projetos de inovação avançam. Afinal, a adoção em massa de novas tecnologias exigirá profissionais aptos.

Fonte: CIO from IDG

29 de dezembro de 2018