O blockchain vai muito além do bitcoin e de outras criptomoedas. A definição representa grande parte do desafio de evangelização que especialistas no tema enfrentam para consolidar a tecnologia no mercado.
É o caso de Regina Nori, especialista em projetos de planejamento estratégico de TI na IBM no Brasil. “Sempre que falamos de blockchain, as pessoas me perguntam: então quer dizer que bitocin é blockchain e vice-versa? Precisamos desmistificar esse conceito. É uma solução tecnológica que vem para resolver problemas de negócios”, resume.
Mais do que transacionar as chamadas criptomoedas, o blockchain tem potencial para revolucionar não só o setor financeiro, mas diversos mercados – e já tem feito isso. Um exemplo é o setor de varejo, com um caso prático com grandes players no Brasil.
Rafael Barini, e-bussiness e especialista em operações de comércio eletrônico e varejo do Carrefour, que está à frente de projetos com blockchain na empresa, explica que a tecnologia é um grande banco de dados que não está centralizado em um servidor único, no qual diversos integrantes fazem parte da cadeia armazenando informações e registros. “Apesar de estar distribuído, uma transação para ser aprovada precisa de consenso de todos os outros. É como se cada parte assinasse aquilo como autêntico”, comenta.
A integração de diversos processos em uma única plataforma, com agilidade e segurança, é onde está o potencial do blockchain para revolucionar processos em um setor como o Varejo.
“Empresas como o Carrefour transacionam com diversas outras empresas, como bancos, logistas, auditorias etc. Toda vez que realiza uma compra, emite uma nota. Todas essas informações estão de alguma forma duplicadas dentro do parceiro de negócios”, comenta Regina.
A questão é que no blockchain o registro é único. “(Da forma como é feito hoje) As informações são truncadas entre empresas e existe duplicidade de informações “disputadas” entre elas. Essas informações podem estrar diferentes, o que pode tornar o processo caro e vulnerável. Cada um pode estar falando uma coisa. Se tiver algum dano em um produto no processo, quem será o responsável? O blockchain resolve esse
O Grupo Carrefour Brasil realizou, na última semana, seu primeiro Fórum de Inovação em São Paulo (SP). O evento, fechado para executivos, parceiros e convidados, discutiu boas práticas e soluções digitais para as principais demandas do varejo e o assunto blockchain foi um dos destaques. Para auxiliar o entendimento da plateia, Regina resumiu quatro pontos para entender a tecnologia.
O primeiro deles é o compartilhamento de base de dados, em que todos os participantes têm a mesma visão de determinada informação e é impossível alterá-la – apenas acrescentar itens.
O segundo quesito é o de privacidade. “Eu garanto a privacidade dos dados e que ninguém vai invadir e buscar aquelas informações. Só terá acesso à minha rede quem eu permitir visualizar. Isso é importante pois muitas vezes a rede de negócios conta com empresas concorrentes, por exemplo.”
Outro ponto citado é o consenso, em que a transação só prossegue se todas as partes derem ok. Por fim, a possibilidade de contratos inteligentes, ou seja, processos que podem ser rastreados em tempo real. “Um exemplo prático é um rastreamento de produto em que conseguimos medir temperatura ao longo do caminho para determinar as condições em que foi transportado.”
“Em resumo, o blockchain traz quatro principais benefícios: economia de tempo, corte de custos, redução de riscos e aumento da confiabilidade.”
Varejo brasileiro na prática
O blockchain já é realidade no Carrefour Brasil. No ano passado, o varejista e a IBM se uniram à rede de alimentos BRF para o projeto “Food Tracking”, que rastreou produtos por meio de blockchain. O objetivo é que o consumidor tenha acesso, de maneira simples e objetiva, à procedência dos alimentos, considerando todas as etapas do negócio: produtiva, comercial e logística.
Desenvolvido na Garagem 11.57 – espaço criado pela IBM para acelerar inovações e aplicações na nuvem -, o projeto visa atender preocupações de clientes com a segurança alimentar e dar confiabilidade sobre as origens dos alimentos.
O projeto usou o produto lombo suíno fatiado congelado para dar qualidade ao processo. “Por que não rastrear um lote de produção ao longo da cadeia e mostrar ao consumidor?”, lembra Regina.
O rastreamento começou na fábrica em Santa Catarina, onde foram coletadas informações como data do abate, do corte, pessoas responsáveis pelo manuseio do produto, bem como a temperatura em que foi armazenado.
Na sequência, a equipe mapeou o transporte, qual foi o caminho, depois a chegada e armazenamento do Centro de Distribuição de Jundiaí (SP) e de Itapevi (SP), até chegar à loja da Rebouças, na capital paulista.
No supermercado Carrefour, a solução foi experimentada por consumidores, que, a partir da leitura de um QR Code afixada na embalagem, tiveram acesso a informações detalhadas das etapas de produção, distribuição e disponibilização do produto na prateleira do varejo.
Segundo Barini, não há planos concretos de continuidade do projeto, ainda tratado como prova de conceito. “Mas temos várias oportunidades de uso. Ainda teremos cenas dos próximos capítulos para continuarmos com a solução”, adianta o executivo.
Fonte: Computerworld
27 de fevereiro de 2018