A primeira semana de dezembro de 2017 provavelmente será lembrada nos registros da História pós Internet como o apogeu de outra corrida: a do Ouro Digital
Há 170 anos, em janeiro de 1848, a Califórnia começou a atrair uma legião de aventureiros vindos de outras regiões dos Estados Unidos e de todo mundo para disputar o início da frenética Corrida do Ouro. Centenas de milhares de pessoas se equiparam com pás e picaretas e colocaram o pé na estrada rumo ao sonho americano de ficar milionário. A primeira semana de dezembro de 2017, anotem, provavelmente será lembrada nos registros da História pós-Internet como o apogeu de outra corrida, a do Ouro Digital.
Nos últimos dias o mercado financeiro mundial entrou em polvorosa com o disparo do valor do bitcoin, que no início da tarde de sexta-feira (8/12) estava sendo comercializado acima de US$ 15 mil depois de bater ontem mais de US$ 18 mil, novo recorde histórico, registrando alta de mais de 70% em uma semana.
No início de 2017, a cotação era de US$ 1 mil, ou seja, a moeda digital chegou a atingir um pico de ganhos acumulados de 1800% em um ano. Seu valor total de mercado é de mais de US$ 250 bilhões, uma capitalização acima de muitas gigantes multinacionais.
O interesse dos investidores cresceu ainda mais depois que a Bolsa de Chicago CME passou a transacionar bitcoins como commodities, assim como o ouro. A outra bolsa de Chicago, Cboe, também iniciou sua oferta neste domingo (10/12) sob o símbolo “XBT”. Outras bolsas mundo afora também estudam lançar seus produtos. É um marco importante, já que coloca a moeda virtual na mesma categoria dos metais preciosos e o bitcoin passa a ser percebido como um ativo alternativo para armazenar valor.
A explosão da demanda e a consequente alta repentina na valorização virou conversa de bar e a pergunta tem sido recorrente: devo investir em criptomoedas? Respondo sem pestanejar: Não! Assim como não é prudente comprar um barco e planejar atravessar o oceano sem nunca ter velejado antes ou saltar de paraquedas sem passar por um curso preparatório.
Em ativos de alto risco a dica é sempre a mesma: invista na dose certa. Eu fiz isso. Coloquei apenas 1% do meu capital, o que não irá afetar minha vida financeira caso a bitcoin se pulverize. Até aqui não tenho motivos para me arrepender. Em 8 meses o valor que apliquei multiplicou por 7. Tive muita cautela e vendi 80%. Os 20% restantes continuam alocados e desde que comecei a escrever este artigo já valorizaram 46%.
Minha primeira recomendação, portanto, é ter prudência, mas também deixo claro que vejo a área de blockchain como uma das mais promissoras do futuro; diria que já do presente. Aos que ainda não têm familiaridade com o tema, talvez a melhor definição seja que o blockchain é a tecnologia que está por trás da criptomoeda.
Ela é suportada por grandes redes distribuídas de computadores que validam e certificam as transações em ambientes criptografados que, aí está a grande disrupção e também o maior fator de risco, não são controladas por um Banco Central. Com isso, a moeda pode ser negociada internacionalmente com facilidade e praticamente sem custos financeiros.
A criptomoeda bitcoin foi desenvolvida em cima da camada do Blockchain em 2009 pelo programador que se apresentou com o pseudônimo Satoshi Nakamoto. É como se fosse um app no seu celular. Não é complicado investir, bastando utilizar os serviços de uma corretora com acesso ao mercado das moedas virtuais.
Com valor ainda bem abaixo do bitcoin, mas também com grande alta (valorização de 4.815,85% em um ano e cotada a US$ 438 no início da tarde da sexta, 8/12), a Ethereum é outra moeda digital que vem ganhando forte tração. Sustentada por uma plataforma blockchain open source, ela tem alta flexibilidade, permitindo a qualquer mortal emitir sua própria moeda.
Derivada do bitcoin, a Ethereum está viabilizando a consolidação de uma nova forma de financiamento e captação de recursos, especialmente para startups – o ICO (Initial Coin Offering), ainda proibido no Brasil e na China, mas já regulamentado nos Estados Unidos, Canadá, Suíça e outros países.
A substituição das ações por moedas digitais será uma revolução que poderá trazer um grande fôlego ao ecossistema global de startups, injetando “dinheiro novo” em negócios que disputam o capital de risco para sobreviver e escalar. Empresas nascentes que fizerem seus ICOs poderão receber o apoio de investidores acostumados a comprar papéis e que agora terão um novo veículo para arriscar suas fichas também no mercado de startups.
Para quem tem estômago e disciplina pode ser uma oportunidade única. Já imaginou se você tivesse investido US$1000 no IPO da Amazon em 1997, há 20 anos, quando a empresa abriu o capital com a ação cotada a US$ 18? Sabe quanto teria no bolso? Quase US$ 634 mil!
Não é preciso suar nas minas da Califórnia para minerar seu ouro digital. Mas lembre-se: no garimpo o maior risco era voltar para casa com a sacola vazia. Já no mercado de criptomoedas, quem for com muita sede ao pote pode morrer na praia. Nesta nova corrida, #ficadica, o melhor é não seguir a estratégia do tudo ou nada. Mas também não adianta ficar de fora e depois se lamentar por não ter tirado as pás e picaretas do porão.
Fonte: Pierre Schurmann
12 dezembro de 2017