Segundo especialista, é impossível proteger dados e cumprir a lei através do app
O ato de trocar informações com colegas de trabalho sobre as demandas da empresa parece algo corriqueiro para a maioria dos trabalhadores. Mas essa realidade está para mudar, pelo menos nas grandes corporações, graças às políticas da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), que prevê multa de até 2% do faturamento da empresa em caso de vazamento de dados.
“Muitas empresas usam o WhatsApp no trabalho para trocar informações, enviar documentos ou contatar fornecedores e clientes. Mesmo sendo uma prática já consolidada, a utilização da ferramenta como instrumento de trabalho exige muita atenção e cautela”, explica o Mestre em Computação Aplicada, Fabrício Oliveira.
Já é do conhecimento dos usuários que as conversas pelo WhatsApp possuem criptografia de ponta a ponta. Isso faz com que o próprio WhatsApp e terceiros não possam ler as mensagens trocadas dentro do aplicativo. Mas as informações que transitam nessas conversas não estão livres de vazamento.
“O uso do WhatsApp no trabalho, principalmente em grupos privados, pode gerar processos trabalhistas”, esclarece Oliveira, que também é professor e coordenador do curso de Sistemas da Informação do Centro Universitário de Excelência (Unex), em Feira de Santana (BA).
Um dos casos mais recentes foi o de uma empresa em Montes Claros (MG) que foi condenada a pagar o equivalente a três horas extras diárias ao trabalhador por causa de ordens fora do expediente. “Além disso, há casos de constrangimento a colaboradores em grupos de trabalho através de cobranças ou exposições constrangedoras”, ressalta o professor.
Mesmo com a criptografia, segundo Oliveira o aplicativo não apresenta segurança com os backups, exportações de conversas e arquivos. Isso pode gerar outros tipos de questionamento: quais grupos de WhatsApp existem na sua empresa? Quem participa? Alguém é responsável por excluir ex-funcionários dos grupos?
“Qualquer pessoa que tenha acesso à ferramenta pode publicar ou copiar as informações confidenciais, além de dificultar que arquivos importantes permaneçam sob o controle da empresa. Ou seja, utilizando o WhatsApp é praticamente impossível proteger os dados da empresa ou cumprir as obrigações de proteção de dados”, enfatiza o especialista.
Políticas de privacidade
Um dos motivos das discussões sobre confidencialidade de dados do WhatsApp é a falta de políticas claras em relação à privacidade. Por isso, muitas empresas já começam a migrar para aplicativos de conversas próprios ou o chat do Gmail, que permite que os gestores tenham maior controle sobre os conteúdos das conversas dos funcionários.
“As empresas precisam investir na implementação de um Programa de Governança de Dados e Segurança da Informação a fim de cumprir as normas da LGPD. Além disso, pensar com todo o time responsável em práticas saudáveis de comunicação interna”, defende Oliveira.
- Fonte: Administradores.cnt.br
- Imagem: Freepik
- 10 de agosto de 2022