A transformação digital ainda é um corpo estranho para muitas companhias que, refratárias à metamorfose, acabam sucumbindo na UTI
As empresas hoje vivem um momento de singularidade, em proporções cósmicas. Este cenário convencionou-se chamar transformação digital. Alguns utilizam a expressão 4ª Revolução Industrial”, termo que parece mais apropriado para demonstrar a profundidade das mudanças que ocorrem neste exato instante nas empresas nos mais diversos setores, sobretudo, em segmentos como varejo e serviços, mas não limitado a esses.
Como em toda revolução, há um processo caótico, convulsivo, no qual o status quo é confrontado e suplantado, sem estabelecer um novo referencial claro de imediato. Nesse momento perigoso, que não temos um paradigma estabelecido, o planejamento e a racionalidade conquistados nas revoluções anteriores parecem não se aplicar.
Nesse momento, vemos que as organizações estão adoecidas, inseguras e se sentem constantemente devedoras, gerando sintomas como: perda da identidade cultural, falta de visibilidade, insegurança e baixo desempenho. A verdade é que a transformação digital, para muitas companhias, ainda é um corpo estranho, colocado em um organismo sem anticorpos, que antes de promover uma metamorfose — sua razão de ser —, arrasta a companhia para a UTI.
A TI, centro de todo este processo de transformação, acaba sendo um microcosmo de tudo o que está acontecendo na companhia: prioridades voláteis, falta de um horizonte estratégico nítido e proliferação de incêndios, tornam-se os desafios do CIO.
Como o gestor pode reverter este quadro de mal-estar, promovendo a inovação no negócio sem perder a mão na operação? É fundamental que os líderes assumam a responsabilidade pelo processo, e não tentem apostar em qualquer tendência. Primeiramente, o gestor deve avaliar de forma crítica e criteriosa como as novas tecnologias podem ser realmente úteis para o negócio e apostar em poucas escolhas, de forma gradual e ágil.
Adotar um modelo de gestão bimodal, blindando as operações, assegurando a governança enquanto se desenvolve novos produtos e soluções com abordagens enxutas e ágeis tem se demonstrado a forma mais eficaz para alcançar resultados sem destruir valor.
Também é necessário manter um olhar positivo sobre estas mudanças, pois, em última instância, a transformação digital representa a maioridade da TI. É o momento em que o CIO é convidado a participar do jogo como um protagonista. Então, trata-se de uma oportunidade, acima de tudo. Para tirar a TI da UTI e abraçar a transformação digital de forma plena é necessário uma mudança de postura por parte do CIO, que envolve:
1) Desenvolver pensamento e comportamento estratégico na TI. Em outras palavras, a TI deve ser capaz de vender o peixe para o board. Deve mudar a forma como se relaciona e se comunica com o negócio, falando mais sobre resultados e menos sobre as operações da TI.
2) Gerenciar o fim, e não apenas o meio. Não é incomum que gestores justifiquem investimentos em TI falando em ROI, payback, VPL, etc. Mas são poucos os que, depois de realizado o investimento, voltam ao tema para avaliar se os resultados prometidos se cumpriram de fato.
3) Não fale apenas de problemas. Fale de oportunidades de negócio. O CIO deve constantemente traduzir e propor a aplicação da tecnologia na resolução de problemas e no desenvolvimento do potencial da organização. Não deve ser apenas um prestador de serviço, mas deve ser um agente a mudança, propondo ativamente novos caminhos, novos meios e criando diferencial competitivo.
Ao adotar mudanças como estas e incorporar novas tecnologias ao negócio de forma calculada e criteriosa, o CIO deixa de ser o paciente na UTI, lutando por sobrevivência, e se torna o médico que ajuda a companhia a passar pelo furacão da transformação digital de forma segura e saudável.
*Michael Cardoso é cofundador, sócio e atual diretor de operações da JExperts.
02 de Agosto de 2017