Pouca diversidade e falta de representatividade da composição social é a realidade nas equipes de tecnologia das empresas brasileiras. O resultado faz parte do estudo Quem Coda o Brasil? realizada pela PretaLab, iniciativa que estimula a diversidade no universo das tecnologias, em parceria com a ThoughtWorks, consultoria global de software.
Embora mais da metade da população do País seja formada por mulheres, sendo que 27% de todos os brasileiros são mulheres negras, o mercado de tecnologia é formado predominantemente por homens (68,3%) e pessoas brancas (58,3%). Entre os entrevistados, 21% responderam que em suas equipes não há nenhuma mulher.
Enquanto 54% da população brasileira é formada por pessoas negras/pretas e pardas, somente 36,9% dos profissionais que responderam a pesquisa se declaram neste grupo enquanto 32,7% dos entrevistados disseram não ter nenhuma pessoa negra em sua equipe. O estudo revelou ainda que o perfil das pessoas que trabalham em tecnologia é bastante jovem – 77% dos entrevistados estão na faixa etária entre 18 e 34 anos – e concentrado nas capitais do País (65%).
“A discussão sobre a diversidade na tecnologia é um dos temas mais urgentes para os negócios”, comenta a recrutadora da ThoughtWorks, Juliana Oliveira, destacando a importância da pesquisa para ajudar a entender nosso cenário e nortear discussões e iniciativas futuras.
Quanto à condição socioeconômica das equipes de tecnologia, mais uma vez o perfil é diverso da média brasileira: mais de 60% apresenta renda mensal domiciliar a partir de cinco salários mínimos, ou seja, R$ 4.770,00 (valor em 2019). Em 69% das equipes, não há nenhuma pessoa com renda mensal domiciliar abaixo de dois salários mínimos.
No que diz respeito à formação destes profissionais, chama a atenção que em uma área com amplo campo para a formação autodidata (45% dos respondentes declaram ter tido este tipo de iniciação), 57% das pessoas tiveram formação em centros formais de ensino, sendo que 55,1% têm ensino superior.
No universo da tecnologia, os homens possuem maior índice de escolaridade em comparação às mulheres e pessoas brancas apresentam mais escolaridade que negras/pretas/pardas, amarelas e indígenas. Levantamento feito pelo Grupo de Estudos de Gênero da Escola Politécnica da USP mostra que em 120 anos, a escola – referência na área de exatas no País, formou apenas dez mulheres negras.
Ao serem perguntados sobre a presença de pessoas com orientação sexual diferente de heterossexual em suas equipes, 50,4% das pessoas disseram não haver nenhuma em seu ambiente de trabalho. No quesito inclusão de pessoas com deficiência, a situação está longe de ser diferente: em 85,4% dos casos, não há nenhuma pessoa nesta condição na equipe. E em 95,9% dos casos, não há sequer uma pessoa indígena nas equipes de trabalho em tecnologia.
“Sabemos o quanto a tecnologia pode aumentar desigualdades e apostamos que mais diversidade na produção de tecnologia é um caminho para reverter isso”, avalia a diretora do Olabi e coordenadora da PretaLab, Silvana Bahia.
Diante deste quadro, a PretaLab lançou uma ferramenta disponível no endereço www.pretalab.com/perfis que pretende unir profissionais negras e empresas interessadas em preencher vagas: em um ambiente digital, as profissionais cadastram seus currículos e apresentam suas habilidades e experiência em uma espécie de hub de perfis que pode ser consultado por empresas de tecnologia ou departamentos de informática de instituições, ONGs e setor privado.
A ferramenta pretende que mais meninas e mulheres negras se aproximem destas áreas e que elas se conectem entre si para o desenvolvimento de projetos e troca de informações. “Essa ferramenta inédita é um desdobramento de um trabalho iniciado em 2017 com a criação da PretaLab e uma forma de mostrar para o mercado de trabalho que sim, nós existimos!”, finaliza.
Fonte: Jornal do Comércio
02 de setembro de 2019